sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O Evangelho Mudou?

Ontem, parei para escutar algumas músicas. Não faço isso com muita freqüência, mas ontem me senti impelido para isso. Eu estava matando as saudades das belas músicas do grupo Logos, quando um trecho da música “O Evangelho” quase se materializou na minha frente (o exagero faz parte de mim, de vez em quando). Transcrevo-o:

“Eu sinto verdadeiro espanto no meu coração

Em constatar que o evangelho já mudou.
Quem ontem era servo agora acha-se Senhor
E diz a Deus como Ele tem que ser”.

Gosto de canções que nos fazem pensar, mas, infelizmente, elas estão se tornando cada vez mais escassas em nosso meio cristão (mas isso é assunto para outra conversa).

De fato, vemos, no meio cristão, um crescente sentimento de “senhorio” por parte de alguns. Como diz a música, o servo passou a pensar que manda e Deus é o alvo de suas ordens e reivindicações. Acho que o pensamento dominante da sociedade – o de que cada um deve tentar crescer e aparecer para ganhar o seu “lugar ao sol” – está tomando conta de alguns crentes. “Deus, eu não aceito! Tu tens que me dar aquela bênção!”, esbravejam os senhores de ninguém.

Certa vez, conversando com uma mulher cristã, ela me contou como havia colocado Deus “no canto da parede” e tinha “exigido” (foram exatamente essas as suas palavras) a bênção do seu casamento. E, realmente, Deus fez do jeito que ela pedira. Será que foi porque Deus se viu sem saída, ou porque suas misericórdias são as causas de Ele não nos ter consumido (cf. Lamentações 3.22)?

O evangelho para alguns – já dizia o grupo Logos – mudou. O evangelho de Jesus, porém, permanece o mesmo e é um pouco diferente. Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus ensina:

“Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.” (João 13.12b-15).

Paulo também faz questão de nos lembrar de que devemos ter “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2.5-8).

Penso também que João Batista não teria muito lugar nesse “novo evangelho”, pois o que ele queria era diminuir, para que Cristo aparecesse (cf. João 3.30).

E o que dizer dos vinte e quatro anciãos que João (não o Batista) viu ao redor do Trono de Deus? Na cabeça de cada um deles havia uma coroa de ouro (cf. Apocalipse 4.4). Não podemos, então, achar que eles não tinham algum tipo de prestígio ou status. Sim, eles os tinham! As coroas de ouro são coisas preciosas; algo a que, com certeza, alguém possa se apegar. No entanto, a reação desses anciãos diante do trono do Senhor é simplesmente espetacular. Leia:

“E, quando os animais davam glória, e honra, e ações de graças ao que estava assentado sobre o trono, ao que vive para todo o sempre, os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.” (Apocalipse 4.9-11, ênfase minha).

Diante daquele que é o Soberano do Universo, os vinte e quatro anciãos só tinham uma atitude apropriada a tomar: Engrandecê-lo. E eles fizeram isso abrindo mão de suas coroas, sua posição, seu status, e assumindo a forma de servos reverentes, prostrando-se.

Não podemos tirar nossos olhos dessa realidade. O verdadeiro evangelho não mudou, e mesmo que eu ache o contrário, aquele que era servo continua servo e o Senhor ainda é o mesmo: Jesus Cristo. A única vontade que permanece boa, perfeita e agradável é a dEle.

Deixo aqui, então, toda a letra dessa bela canção, para nosso conforto:



Eu sinto verdadeiro espanto no meu coração
Em constatar que o evangelho já mudou.
Quem ontem era servo agora acha-se Senhor
E diz a Deus como Ele tem que ser

Mas o verdadeiro evangelho exalta a Deus
Ele é tão claro como a água que eu bebi
E não se negocia sua essência e poder
Se camuflado a excelência perderá!

O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.

O evangelho mostra o homem morto em seu pecar
Sem condições de levantar-se por si só
A menos que, Jesus que é justo, o arranque de onde está
E o justifique, e o apresente ao Pai.

Mostra ainda a justiça de um Deus
Que é bem maior que qualquer força ou ficção
Que não seria injusto se me deixasse perecer
Mas soberano em graça me escolheu

É por isso que não posso me esquecer
Sendo seu servo, não Lhe digo o que fazer
Determinando ou marcando hora para acontecer
O que Sua vontade mostrará.

O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.